Dom Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)
No dia 25 de janeiro, a Arquidiocese de São Paulo comemora a festa de
seu Patrono, o Apóstolo São Paulo. No Ano da Fé, convém voltar para São Paulo
um olhar especial, para perceber nele o homem de fé e a testemunha firme e
qualificada de Cristo.
A sua fé, enquanto fariseu zeloso, talvez era a do estudioso das
Escrituras, do intelectual, que procurava entender a letra dos testemunhos dos
antepassados; era um encarregado intransigente de zelar pela prática
intransigente e sem desvios de tudo o que se prescrevia na religião. Ele mesmo
escreve que era zeloso mais que ninguém (cf Fl 3,6). Mas com o zelo dessa
religiosidade formal, ele perseguiu os cristãos, que considerava desviados da
fé (cf At 9,1-2). Mas, qual fé?!
Às portas de Damasco, ele teve o encontro inesperado com Cristo, em
pessoa, que lhe fala: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Suas convicções são
sacudidas por aquela voz. Sua fé estava baseada na letra; agora, a letra tem
voz e se revela como pessoa! “Quem és tu, Senhor?” (At 9,5). A fé muda de base:
das doutrinas e preceitos, passa a se confrontar com Aquele que lhe fala e
sobre quem versam doutrinas e letras.
Saulo tem a experiência marcante de sua fé cristã: o encontro pessoal
com Aquele mesmo, que estava perseguindo e queria combater. Compreende e se
entrega: “que devo fazer, Senhor?” (cf At 22,10). Está disposto a aprender tudo
de novo; e será o que vai fazer, na escola de Gamaliel e no seu retiro de três
anos “na Arábia”, como ele mesmo informa (cf Gl 1,17). Saulo já é “Paulo”, que
significa “pequeno”, humilde.
E a imensa energia de seu caráter será posta, agora, inteiramente a
serviço de Cristo, que teve misericórdia dele e o alcançou... A experiência do
perdão, da misericórdia alcançada e da escolha que Cristo fez dele para ser
apóstolo e missionário do Evangelho entre os povos não saem mais de sua cabeça
e fazem seu coração transbordar: “Ele me amou e por mim se entregou!” (cf Cl
2,20)!
Uma vez encontrado e reconhecido Jesus Cristo, Paulo aposta sua vida
inteiramente nele: “para mim, o viver é Cristo”. Não lhe interessam mais as
glórias deste mundo, nem mede esforços e fadigas para anunciar o nome de Cristo
entre os povos, tentando atraí-los para Ele, para terem, como ele teve, a
experiência do encontro e do perdão. A fé, para ele, não será mais algo
abstrato, mas referida à pessoa de Jesus Cristo, que lhe abriu todos os
tesouros da compreensão e da graça.
A fé, para Paulo, é adesão viva e firme à pessoa de Jesus e, por meio
dele, à pessoa de Deus. Essa adesão é perseverante, mesmo no meio das maiores
dificuldades e provações, que deve enfrentar por causa de Cristo. Finalmente,
essa fé mantém-se firme também nas prisões, torturas e no martírio.
Para Paulo, a fé, é um novo modo de compreender o mundo, a vida, a
conduta humana. A fé torna sábio “em Cristo”, leva a um “estar com Cristo”, a
“viver de Cristo”, a esperar com firme confiança e a obedecer a Deus, por meio
de Cristo. A fé significa para Paulo uma participação na vida, na morte e na
ressurreição com Cristo. A fé é dom recebido e acolhido com gratidão e
correspondido com coerência e conversão constante.
Como apóstolo e missionário, ele “gera filhos na fé” e os educa no
Evangelho; suas cartas testemunham de maneira abundante esse zelo
paternal em relação às diversas comunidades que tiveram origem com sua
pregação e ação missionária. As recomendações a Timóteo e a Filémon mostram as
qualidades de seu coração de pai e educador na fé. Aproximando-se do martírio,
ele pode dizer com serenidade: “completei a minha corrida, guardei a fé!” (2Tm
4,7).
Olhando para este Apóstolo, sentimo-nos encorajados a imitar seu exemplo
de homem de fé, de testemunha de Cristo. Muitos outros, em tempos difíceis ao
longo da história do Cristianismo, inspiraram-se nele e ajudaram a Igreja a
recobrar ânimo e nova vitalidade missionária. Tempos de “nova evangelização”,
como os que vivemos, requerem a mesma atitude... Olhemos para o exemplo de São
Paulo e peçamos sua intercessão.
Fonte: http://www.cnbb.org.br
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